quinta-feira

Inteligência


Fazia muito tempo que me acostumara com a perspectiva de uma vida solitária. Ser pobre, feia e além do mais inteligente condena, em nossas sociedades, a percursos sombrios e sem ilusões, aos quais é melhor se habituar cedo. A beleza se perdoa tudo, até mesmo a vulgaridade. A inteligência deixa de parecer apenas uma justa compensação das coisas, algo como um reequilíbrio que a natureza oferece aos filhos menos favorecidos, e fica parecendo um brinquedo supérfluo que realça o valor da joia. A feiura, em compensação, já é sempre culpada, e eu estava fadada a esse destino trágico, sentindo mais dor ainda na medida em que não era boba.
- Muriel Barbery in “A elegância do ouriço”

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