Não que eu seja lá um candidato,
mas ao final do artigo... Deu uma preguiça... Ainda existe no imaginário de
todo escritor iniciante, ou candidato a iniciante, aquela ideia que viu muito
nos livros, do escritor taciturno, meio eremita, no seu canto com os seus botões
literários, enquanto os seus livros ganhavam as livrarias, e ele até se dava ao
luxo de ser uma incógnita para o seu leitor usual. A literatura está cheia
destes tipos, mas, pelo visto, coisas assim, ou escritores assim, só existem
hoje nas páginas dos romances.
"Recentemente
a revista The
Economist publicou um artigo sobre a necessidade dos escritores
atuais voltarem a atenção para o lado comercial da profissão. Não
necessariamente para a escrita comercial, mas para a contabilidade, para os
números. Isso se faz necessário porque as editoras estão competindo por
leitores e querem ver seus livros resenhados, blogados, comentados nas mídias
sociais. Com um menor número de livrarias independentes não há mais atenção
dada ao público mais exigente, aquele que se encantaria com uma obra de um tema
menos popular. No momento, as editoras só se preocupam em favorecer alguns
poucos títulos, para os quais sabem que terão leitores, cujo investimento para
o marketing trará retorno garantido. Desse modo não gastam tempo nem dinheiro
impulsionando escritores ainda desconhecidos ou livros com temas menos
populares. A atenção das editoras se concentra nos títulos que têm maiores
chances de venda. Desejam aqueles livros que criam seguidores, marcando lugar
nos jornais, criando filas nas livrarias, às três da manhã para a primeira
compra de um novo título. Os escritores que se cuidem. A indústria editorial
anda muito bem obrigada. Em 2013, as publicações quintuplicaram, isso mesmo,
cresceram cinco vezes quando comparadas com os números de dez anos atrás.
Hoje
escritores precisam estar atentos aos diversos níveis de marketing começando
pelos contatos com pessoas que podem influenciar nas vendas. Já se foi a era
dos críticos literários, dos jornais especializados. Tudo hoje é marketing.
Tornou-se importante o endosso de celebridades, de pessoas famosas. E se as
vendas são muito boas, os próprios escritores se tornam celebridades. Nesse
caso o problema é que eles podem ser pessoas introvertidas, dadas à reflexão e
quase nunca à arte de vender. Muitos autores se sentem incomodados com técnicas
de venda sugeridas por especialistas em marketing ou com a aproximação invasiva
de um público curioso pelo que escritores consideram desimportante. Mas, como
lembra a revista, nenhum escritor pode, como em priscas eras, se esquivar de
fazer a sua parte na promoção do livro que lhe custou tanto tempo de dedicação.
Isso
não resolve, no entanto, um dos grandes problemas dos autores:
pouquíssimos conseguem viver exclusivamente da venda de seus livros. Mesmo
aqueles que têm mais de um título vendendo bem não conseguem viver
exclusivamente da escrita. Eles então suplementam sua subsistência dando
palestras, fazendo consultoria ou ensinando. Seus honorários crescem de acordo
com o sucesso de vendas. Hoje eles precisam de se envolver na campanha de marketing,
precisam de uma página na web, nas redes sociais, canal no Youtube, pequenas
histórias para download gratuito, como bônus para quem os segue e assim por
diante. O emprego de um especialista em marketing não é raro e vale a pena
saber que tópicos estão em pauta para o próximo livro.
Mas
nada disso, absolutamente nada disso, funcionará a favor do autor se o livro
publicado não tiver um mínimo de bom conteúdo, se não for bem escrito, sem
erros gramaticais. A arte de escrever bem ainda é necessária. O que mudou é que
o escritor precisa se dedicar à comercialização de seus livros, promovê-lo,
escrever um blog, ter um website, encantar auditórios, dominar as redes
sociais, polir sua imagem nas mesmas, agradar a gregos e troianos, ter senso de
humor, ter assunto, estar do lado certo nas agendas político-sociais, alavancar
vendas, favorecer encontros, suscitar interesse na sua pessoa ou nos seus
livros, entusiasmar fãs, incrementar o guarda-roupa, sair bem na foto. É fácil!
Ainda sonha em ser escritor?
Artigo
mencionado: Authorpreneurship
Publicado em peregrinacultural
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