Esta
lista, como qualquer outra, utiliza critérios próprios escolhidos por cada autor
que se proponha a tal, logo diferente daqueles utilizados em outras relações. Podem
até ser questionadas, já que não existe um único padrão estabelecido, quando
até mesmo entraria a velha filigrana, uma questão de gosto.
Veja
o que acha o autor desta abaixo.
"Os 10 romances mais importantes da
literatura brasileira
As listas são um instrumento crítico de grande relevância, pois trazem, subjacente, um conceito de literatura - este conceito talvez seja mais importante do que as obras escaladas. Ao escolher apenas 10 romances brasileiros eternos, segui alguns critérios: não repetiria livros do mesmo autor; privilegiaria obras que trouxeram alguma inovação formal; e daria preferência a livros que fossem mais do que uma história, que tivessem um valor metonímico, representando um período literário, um painel histórico, um grupo social, uma tendência estética. Podem ser considerados como marcas comuns a todas as narrativas listadas o desejo de construir um retrato do Brasil o investimento em uma linguagem identitária - cada título, logicamente, à sua maneira. Teríamos aqui então um pequeno mapa do grande romance nacional.
As listas são um instrumento crítico de grande relevância, pois trazem, subjacente, um conceito de literatura - este conceito talvez seja mais importante do que as obras escaladas. Ao escolher apenas 10 romances brasileiros eternos, segui alguns critérios: não repetiria livros do mesmo autor; privilegiaria obras que trouxeram alguma inovação formal; e daria preferência a livros que fossem mais do que uma história, que tivessem um valor metonímico, representando um período literário, um painel histórico, um grupo social, uma tendência estética. Podem ser considerados como marcas comuns a todas as narrativas listadas o desejo de construir um retrato do Brasil o investimento em uma linguagem identitária - cada título, logicamente, à sua maneira. Teríamos aqui então um pequeno mapa do grande romance nacional.
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Machado de Assis
Uma desconstrução do Brasil, por meio
da ironia, que escancara a hipocrisia da nossa elite dirigente no século 19.
Machado de Assis dá voz a um narrador defunto que, longe da vida social, pode
zombar do caráter das pessoas com quem conviveu. O romance também é importante
por se valer de novas técnicas narrativas, fazendo-se a obra mais inovadora
daquele século.
O Ateneu (1888), Raul Pompeia
É o precursor da autoficção, um
romance carregadamente autobiográfico, centrado nas desilusões do menino Sérgio
em um colégio que era tido como o melhor o país. Ele descobre a falsidade e os
comportamentos sórdidos de um mundo onde não há lugar para o amor e a amizade.
Escrito com um cuidado de poeta parnasiano, este é o romance brasileiro em que
a linguagem literária chegou ao seu ápice.
Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), Lima Barreto
É a obra que faz a passagem da língua
mais formal, de matriz lusitana, para a linguagem quente das ruas, que
representa os seres marginais em um Rio de Janeiro que sonha com a modernidade.
Aqui, Lima Barreto acompanha o drama de um mulato inteligente, que é
violentamente discriminado por sua cor, o que o autor promove é uma
naturalização da linguagem para dar espessura humana a atores sociais que nunca
haviam sido protagonistas na literatura brasileira.
Macunaíma (1928), Mário de Andrade
O mais divertido retrato do Brasil
como um país que vive contemporaneamente em todas as idades do continente, no
período pré-cabralino, no Brasil dos viajantes estrangeiros, na Colônia, no
Império e na modernidade. O grande feito do livro é transformar as
características do homem nacional tidas como defeitos em elementos positivos de
nossa identidade malandra, ao mesmo tempo em que elege a pilhagem nos documentos
como uma forma de invenção selvagem.
Vidas Secas (1938), Graciliano Ramos
Um romance montado com cenas avulsas,
a partir de quadros, em que Graciliano Ramos acompanha a rotina desesperadora
de nordestinos que vivem de fazenda em fazenda, isolados do mundo. Fabiano e
Sinhá Vitória têm que tomar uma decisão crucial, eternizar este ciclo de
exploração ou tentar dar aos filhos o estudo que eles nunca tiveram. Mais do
que um romance sobre a seca e o nordeste, é uma narrativa sobre o poder da
linguagem.
Fogo Morto (1943), José Lins do Rego
É a obra máxima do Ciclo da Cana de
Açúcar, construída com recursos narrativos modernos, longe da memorialística de
outros livros do autor. Em “Fogo Morto” ele transforma em mito e em
fantasmagoria o fim de um período colonial da história do Brasil, mostrando a
falência do modelo social dos engenhos, do qual ele se sente órfão. Aqui, a
matéria nordestina ganha uma estrutura narrativa de planos que se sobrepõem,
condensando todo um tempo.
Grande Sertão: Veredas (1956), Guimarães Rosa
Verdadeira enciclopédia do Sertão,
este romance avança barrocamente para todos os lados, mostrando um narrador
sertanejo que usa filosoficamente a linguagem, modificando-a para tentar dar
vazão aos seus questionamentos interiores. Riobaldo narra para nos e para se
convencer de sua inocência em relação a três episódios centrais: o pacto que
ele teria feito com o diabo, o fato de amar em Diadorim (a guerreira travestida
de jagunço) a mulher e não o homem e as mortes que ele comete na jagunçagem.
A Paixão Segundo GH (1964), Clarice Lispector
É o livro mais importante de Clarice
Lispector, marcado por uma estrutura solta, que não tem começo nem fim — inicia
e termina com reticências. O que o leitor acompanha é parte dos intermináveis
questionamentos de uma narradora atormentada pela necessidade de se conhecer,
ampliando metaforicamente o eu e o agora até os primórdios da vida no planeta.
O Coronel e o Lobisomem (1964), José Cândido de Carvalho
Ambientado no litoral carioca, este
romance coloca em cena um narrador mentiroso, que gosta de contar vantagem, mas
que revela, em cada episódio, a sua ingenuidade de roceiro. O coronel que
acreditava em lobisomem é completamente enganado por figuras urbanas, cifrando
o fim deste mundo mítico, que não tem mais continuidade no presente. Aqui, a
linguagem sertaneja ganha um colorido deslumbrante para cifrar o descompasso
deste mundo.
A Pedra do Reino (1971), Ariano Suassuna
Obra monumental, de incorporação da
cultura popular, que se apresenta programaticamente inconclusa, na qual o
narrador, preso por seu envolvimento com um episódio trágico do sertão (a
degola de animais e pessoas para instaurar o Império da Pedra do Reino)
constrói o romance como uma peça de defesa, tentando nos convencer de sua
inocência. Farsa e fanatismo dão a tônica ao romance.
Miguel Sanches Neto, doutor em Teoria Literária pela Unicamp, é autor, entre outros, dos romances “Chove Sobre Minha Infância” (Record), “Um Amor Anarquista (Record)” e “A Máquina de Madeira” (Cia das Letras). Este ano, a Intrínseca lança seu romance sobre os nazistas no Sul do Brasil, “A Segunda Pátria”. Site: www.miguelsanches.com.br
E aí, já encarou quantos da relação acima? Eu li 9
deles. Não por sugestão, mas bem antes de conhecer esta relação.
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