“... visão crítica e
capacidade de argumentação ajudam a escrever um bom texto”. Parece simples, não? Em certo sentido é. Desde
que o candidato que quer escrever assim seja adepto, ‘de leve’ de um habito que
vem se tornando a cada dia menos usual, que é o de ler com regularidade e
escrever. Só isso!
“É importante fazer os alunos pensarem”, diz dono de nota mil na redação do Enem
Duas
vezes nota mil na redação do Enem, Raphael de Souza diz que visão
crítica e capacidade de argumentação ajudam a escrever um bom texto.
Candidato a uma vaga de medicina, o estudante de
Niterói Raphael de Souza, de 19 anos, já ouviu muitas vezes que deveria mudar
sua opção para jornalismo. O motivo é seu desempenho na redação do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem): depois de tirar 960 em 2013, ele atingiu os
mil pontos em 2014 e repetiu o feito em 2015.
Para preparar bem os alunos, ele acredita que os
colégios e cursos preparatórios devem ir além do ensino de normas gramaticais e
modelos de texto e investir mais na formação crítica dos estudantes e em sua
capacidade de argumentar.
"É importante os cursos fazerem os alunos
pensarem. Não só visando à nota final, mas estimulando o raciocínio. O Enem
quer ver se o aluno consegue argumentar ou não, se tem uma visão crítica e
capacidade de expor com originalidade", defende o estudante, e cita como
exemplo as aulas de debate que teve em seu curso preparatório. Raphael cursou
pré-vestibular nos últimos dois anos e terminou o ensino médio em um colégio
particular tradicional de Niterói.
O jovem argumenta que a capacidade de raciocinar
ajuda inclusive na hora de lidar com o tempo disponível para escrever o texto.
Para Raphael, o candidato que estiver mais acostumado a construir um argumento
vai ter mais facilidade de estruturar o texto e escolher as palavras certas com
rapidez. "O aluno tem que ser estimulado a mostrar o que ele pensa e a
conseguir fazer isso".
Em sua preparação para o Enem, o estudante conta
que costumava escrever ao menos uma redação por semana e pedia para que o texto
fosse corrigido por monitores do curso preparatório. "Não tem outro jeito.
O importante para a redação é o treino. É preciso descobrir qual está sendo o
seu erro e melhorar".
Na primeira vez em que fez o ENEM, em 2012, quando
ainda estava no segundo ano do ensino médio, ele tirou 640 na redação. Treinar
a argumentação e a escrita foram fundamentais para que esse resultado
melhorasse. Outro ponto que ele destaca é o hábito da leitura: "O tempo do
vestibular é muito curto e quem tem o hábito da leitura consegue montar as
frases mais rapidamente".
Preparado para a redação, Raphael luta contra o
relógio para fazer todas as provas do mesmo dia. Em 2015, ele não conseguiu
terminar a de matemática, o que já tinha acontecido antes. A solução foi chutar
algumas questões. "Tem muita coisa que depois eu vou ver e consigo fazer,
mas que na hora do nervosismo e da pressa não sai", diz ele, que lembrou
de um problema imprevisível que enfrentou no dia da prova: "Tinha um
churrasco do lado do local de prova, com música alta, e um pessoal jogando
futebol. Tocou de tudo".
Tema
Em 2015, o tema da redação do Enem foi "A persistência da violência contra
a mulher na sociedade brasileira". Para o campeão de notas, a escolha do
assunto foi um ponto que contribuiu para seu bom desempenho e para um debate
relevante. “Achei o tema ótimo. Quando abri a prova, fiquei muito feliz. É um
tema ótimo de falar, e necessário para a sociedade brasileira. Uma discussão
muito importante".
Consciente do esforço que faz para se sair bem na
redação, Raphael avalia que a prova é uma das mais difíceis do exame para quem
não teve acesso à educação de qualidade nem a cursos preparatórios. "É a
nota que para muita gente pega mais, porque envolve muito treino, e é uma parte
pesada. A gente sabe que na realidade do nosso país nem todo mundo tem o
preparo que merece e deveria ter", lamenta ele, que é a favor de cotas
para ingresso na universidade.
Mesmo com o bom resultado de seus textos, nas
últimas tentativas, o estudante não conseguiu nota suficiente para garantir
vaga em umas das três universidades federais fluminenses que oferecem o curso
de medicina: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade
Federal Fluminense (UFF) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(Unirio). Neste ano, com uma média geral maior, ele espera conseguir a aprovação:
"Estou esperançoso".
Vinícius Lisboa -
Repórter da Agência Brasil
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